O
título do dicionário, “Angolense”, é, antes de mais, uma provocação àqueles que
embirram com o termo. Voltarei a esta palavra alguns parágrafos mais abaixo.
O
“Dicionário Angolense” nasceu na internet, no blog AngolaHaria, em Janeiro de
2006, como suporte linguístico dos textos publicados. O blog teve uma página
própria para tal, designada “Mulonga, a palavra”, que serviu, também, de ensaio
para voos maiores.
Quando
empreendi aquele trabalho tinha já um volume de informação substancial, que
vinha compilando desde 1979, data da minha chegada a Portugal, em princípio
pelo simples facto de não querer deixar fugir as raízes angolanas ou, por
outras palavras, para não perder o fio à meada. Hoje esse trabalho está muito
mais completo mas esta edição não é definitiva (e sê-lo há algum dia?) porque a
língua angolense é extremamente viva e criativa.
A
aceitação que o trabalho teve na internet (51.750 visitas na 1ª
edição) e a insistência de familiares e amigos, obrigaram-me a continuar e provaram várias coisas:
edição) e a insistência de familiares e amigos, obrigaram-me a continuar e provaram várias coisas:
1º
- que os angolanos, em Angola e na diáspora, amam a sua linguagem, não obstante
um amigo me ter referido, há algum tempo, que em Luanda a geração mais nova não
se interessa pelas línguas nacionais; talvez esta seja uma oportunidade para
incentivar o gosto pelo que é angolano;
2º
- que a linguagem aqui tratada interessa bastante aos portugueses, mormente aos
amantes da Literatura Angolana; nem todos compreendem integralmente os termos
das obras de Luandino, Pepetela, Xitu, Macedo e muitos outros porque raramente
os livros são acompanhados por glossários; é uma lacuna que pretendo minimizar,
indo até um pouco mais além, porque há palavras que necessitam de algo mais
para lá do simples significado, coisa que é impossível encontrar nos
glossários;
3º
- o ensaio interessou bastante aos brasileiros; é bom de ver que o facto se
deve à própria composição da população brasileira e à sua cultura, com imensas
raízes africanas;
4º
- o sítio foi visitado por internautas de todos os países de Língua Oficial
Portuguesa, da Europa, de África, Ásia e América; se bem que acredite que a
grande maioria seja a Diáspora Angolana, outros eram apenas gente curiosa ou interessada,
uma vez que nos comentários e perguntas foram utilizados o Francês, o Inglês, o
Alemão, o Árabe e o Cantonês, já que no blog existia uma série de dicionários e
tradutores automáticos.
Sobre
o termo Angolense
Há
muito quem não goste do termo “Angolense” e o extremo é a sua negação. Foi o
que aconteceu em “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa”, pela pena de Rui Ramos,
em 23 de Janeiro de 2003 (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/angolano--angolense/10203):
“Angolense não é
sinónimo de angolano. A primeira designação surgiu nos meios culturais
luandenses e está ligada ao título de um jornal luandense que se pautou pelo
nacionalismo.
[…] Resumiria assim: angolense está ligado a um jornal
histórico; angolano diz respeito à nacionalidade. Somos angolanos e não
angolenses.”
O
mais diplomático que posso ser a este respeito, é dizer que isso se deve a pura
distração de Rui Ramos ou, talvez, falta de investigação. O termo existe e está
consagrado há mais de 125 anos. O registo mais antigo que conheço por leitura
direta é de 1893,
“… tal é esta modesta
obra, que temos a ousadia de apresentar ao público luzo-angolense” - Matta 1893:IX,
e
o mais recente, de Agualusa, de 2010,
“-É simples, disse o angolense, um mulato ainda jovem…” - Agualusa 2010b:100,
se
mais recente não houver.
Dirão
os detratores que isso se deve apenas a invencionices dos escritores. Será!?
Quem
faz a língua?
Evolução
Os
termos angolanos tratados no dicionário evoluíram das línguas bantas de Angola
para o Português, da mesma forma que o Latim evoluiu para o Português: por duas
vias – a popular e a erudita.
A
via popular surgiu da necessidade de entendimento entre os locutores das
variadas línguas faladas já no território que seria, mais tarde, Angola, e que
encontraram no Português um verdadeiro veículo de comunicação.
Pela
via erudita foram, os escritores angolanos, às raízes - às línguas nacionais –
buscar novas palavras para tornar os seus textos mais genuinamente angolanos.
Assim,
todos os termos que encontrarem neste dicionário são legítimos e conformam uma
cultura secular.
admário costa lindo
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