quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O que é o Angolense




                              
                                                        

O título do dicionário, “Angolense”, é, antes de mais, uma provocação àqueles que embirram com o termo. Voltarei a esta palavra alguns parágrafos mais abaixo.

O “Dicionário Angolense” nasceu na internet, no blog AngolaHaria, em Janeiro de 2006, como suporte linguístico dos textos publicados. O blog teve uma página própria para tal, designada “Mulonga, a palavra”, que serviu, também, de ensaio para voos maiores.
           
Quando empreendi aquele trabalho tinha já um volume de informação substancial, que vinha compilando desde 1979, data da minha chegada a Portugal, em princípio pelo simples facto de não querer deixar fugir as raízes angolanas ou, por outras palavras, para não perder o fio à meada. Hoje esse trabalho está muito mais completo mas esta edição não é definitiva (e sê-lo há algum dia?) porque a língua angolense é extremamente viva e criativa.

A aceitação que o trabalho teve na internet (51.750 visitas na 1ª
 edição) e a insistência de familiares e amigos, obrigaram-me a continuar e provaram várias coisas:

1º - que os angolanos, em Angola e na diáspora, amam a sua linguagem, não obstante um amigo me ter referido, há algum tempo, que em Luanda a geração mais nova não se interessa pelas línguas nacionais; talvez esta seja uma oportunidade para incentivar o gosto pelo que é angolano;

2º - que a linguagem aqui tratada interessa bastante aos portugueses, mormente aos amantes da Literatura Angolana; nem todos compreendem integralmente os termos das obras de Luandino, Pepetela, Xitu, Macedo e muitos outros porque raramente os livros são acompanhados por glossários; é uma lacuna que pretendo minimizar, indo até um pouco mais além, porque há palavras que necessitam de algo mais para lá do simples significado, coisa que é impossível encontrar nos glossários;

3º - o ensaio interessou bastante aos brasileiros; é bom de ver que o facto se deve à própria composição da população brasileira e à sua cultura, com imensas raízes africanas;

4º - o sítio foi visitado por internautas de todos os países de Língua Oficial Portuguesa, da Europa, de África, Ásia e América; se bem que acredite que a grande maioria seja a Diáspora Angolana, outros eram apenas gente curiosa ou interessada, uma vez que nos comentários e perguntas foram utilizados o Francês, o Inglês, o Alemão, o Árabe e o Cantonês, já que no blog existia uma série de dicionários e tradutores automáticos.



Sobre o termo Angolense



Há muito quem não goste do termo “Angolense” e o extremo é a sua negação. Foi o que aconteceu em “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa”, pela pena de Rui Ramos, em 23 de Janeiro de 2003 (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/angolano--angolense/10203):

“Angolense não é sinónimo de angolano. A primeira designação surgiu nos meios culturais luandenses e está ligada ao título de um jornal luandense que se pautou pelo nacionalismo.
[…] Resumiria assim: angolense está ligado a um jornal histórico; angolano diz respeito à nacionalidade. Somos angolanos e não angolenses.”

O mais diplomático que posso ser a este respeito, é dizer que isso se deve a pura distração de Rui Ramos ou, talvez, falta de investigação. O termo existe e está consagrado há mais de 125 anos. O registo mais antigo que conheço por leitura direta é de 1893,

“… tal é esta modesta obra, que temos a ousadia de apresentar ao público luzo-angolense  - Matta 1893:IX,

e o mais recente, de Agualusa, de 2010,

“-É simples, disse o angolense, um mulato ainda jovem…” - Agualusa 2010b:100,
                                                                                   
se mais recente não houver.

Dirão os detratores que isso se deve apenas a invencionices dos escritores. Será!?

Quem faz a língua?


Evolução

Os termos angolanos tratados no dicionário evoluíram das línguas bantas de Angola para o Português, da mesma forma que o Latim evoluiu para o Português: por duas vias – a popular e a erudita.

A via popular surgiu da necessidade de entendimento entre os locutores das variadas línguas faladas já no território que seria, mais tarde, Angola, e que encontraram no Português  um verdadeiro  veículo de comunicação.

Pela via erudita foram, os escritores angolanos, às raízes - às línguas nacionais – buscar novas palavras para tornar os seus textos mais genuinamente angolanos.

Assim, todos os termos que encontrarem neste dicionário são legítimos e conformam uma cultura secular.




admário costa lindo



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